Dentro da celebração do
"Ano da Fé, a Igreja de Santa Luzia de Mossoró reza e faz memória de um ano de
falecimento do bispo emérito, Dom José Freire.
Neste "Ano da Fé" o Papa
convida a Igreja para aprofundar e redescobrir a alegria da vivência da fé. Como
via para vivificar e amadurecer essa fé, o Papa sugere que a Igreja recorde e
acolha os frutos do Concílio Vaticano II, amadurecidos há mais de 50
anos.
Dom José Freire já no
início dos anos 80, ao lado de outras brilhantes figuras, com a elaboração do
documento "Catequese Renovada", interpretou basicamente o mesmo apelo que o papa
faz à Igreja de hoje.
Dom Freire, após fazer
especialização em catequese em Roma, foi convidado pela CNBB para repensar e
inovar a catequese no Brasil. Ele junto com os seus colegas revolucionam o modo
de educar e viver a fé cristã. À luz da nova Igreja pós-conciliar, a catequese
deixa de ser simplesmente doutrinal e devocional e passa a ser uma experiência
de fé, vivida de forma integral. Fé e vida se interagem.
A educação da fé não é mais
feita de cima pra baixo, atropelando a história de fé de um país ou de uma
comunidade, mas, dá-se pelo respeito à caminhada de cada povo, de cada cultura.
Por isso, educar na fé requer paciência e abertura contínua às novidades do
Espírito que surgem constantemente.
A fé cristã vem para
iluminar, dignificar e santificar a existência humana, criando em cada pessoa
uma consciência crítica, levando-a desse modo a ser um agente ativo e
transformador da realidade social.
Um ano depois da publicação
do documento "Catequese Renovada", Dom Freire assume o governo da diocese, em
1984.
Ainda sentindo a brisa
suave que soprava da nova Igreja pós-conciliar, Dom Freire foi, cautelosamente,
dando assas às inovações já introduzidas pelo seu antecessor, Dom Gentil, e, do
outro lado, colocando em prática as novas diretrizes evangelizadoras que surgiam
na América Latina, através das conferências de Medellín e Puebla.
Essa nova Igreja - que,
passo a passo ia tomando forma e se expandindo no governo de Dom Freire - vivia
num contexto social e político bastante crítico. O Brasil ainda respirava o
regime ditatorial, as forças do mal oprimiam e negavam a liberdade e a vida do
povo.
Dom Freire, homem de
oração, cheio de Deus, com um tom profético e libertador, defendia os direitos
dos pobres, o retorno à democracia, a liberdade de expressão e, sem medo,
denunciava abertamente os políticos corruptores que defendiam a ditadura militar
e que nada faziam para reduzir a pobreza e a desigualdade social.
No campo pastoral, Dom
Freire implantou na diocese os frutos do Concílio Vaticano II.
Lá no Concílio se optou pelos
pobres, pela educação libertadora, pelas comunidades eclesiais de base, pelo
protagonismo laical, por uma Igreja mais simples, mais povo e mais
participativa.
Aqui na Diocese não foi
diferente, Dom Freire anima e multiplica as comunidades de base, os leigos
passam a ser agentes protagonistas da missão, sentam na mesma roda de conversa
com bispos e padres, através de conselhos e assembléias.
Essa foi uma das maiores
mudanças: até então, a Igreja era hierárquica e fortemente clerical e, agora,
com o vento revolucionário do Concílio, os leigos e leigas se misturam com a
"hierarquia" porque, pelo batismo, todos são iguais, revestidos da mesma
dignidade e valor.
Com Dom Freire, os círculos
bíblicos se ramificam por toda a diocese, o CEBI alimenta nas comunidades de
base a espiritualidade bíblica, através da formação e da leitura orante da
Escritura.
Como no Concílio, Dom
Freire também faz opção pelos pobres. Não se contenta em apenas defender os
direitos dos excluídos e excluídas, mas também abraça com zelo as pastorais
sociais (CPT, SEAPAC, MEB, PO, Pastoral da Criança, entre outros).
O legado pastoral de Dom
Freire merece sempre ser recordado e transmitido. O Cursilho de Cristandade, o
trabalho de animação vocacional, a acolhida e admiração pelas congregações
religiosas, o diálogo e a amizade com o seu presbitério também são
características do seu episcopado.
Por todos os lados vemos o
seu sangue correndo nas veias da nossa Igreja, através de inúmeras pastorais,
movimentos e serviços que continuam vivas, graças ao trabalho de preservação e
inovação do seu sucessor, Dom Mariano Manzana.
Os grandes feitos deixados
por figuras como Dom Freire, Pe. Guido, Pe. Américo, Pe. Humberto, Pe. José do
Vale, Pe. Caminha e outros deverão ser sempre reconhecidos e preservados na
história da nossa Igreja, com muito zelo e admiração.
Fonte:
Pe Talvacy Chaves
http://talvacy.blogspot.com.br/2013/01/dom-jose-freire-e-o-ano-da-fe.html
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